Relatório aponta domínio do Comando Vermelho em 70 das 92 cidades do Rio de Janeiro
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Documento da Polícia Militar revela que a facção ampliou o controle territorial e econômico em boa parte do estado, com atuação que vai além do tráfico e afeta diretamente a rotina de milhões de fluminenses
O Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa do Rio de Janeiro, mantém hoje presença consolidada em 70 dos 92 municípios do estado, segundo levantamento da Polícia Militar. O número equivale a mais de três quartos do território fluminense e reforça a preocupação das autoridades com a expansão e a capacidade de articulação da organização.
O estudo, que mapeia a atuação de grupos criminosos, mostra que o CV controla 1.036 dos 1.648 territórios classificados como áreas de risco, o que representa cerca de 63% do total. Em 36 cidades, a facção domina completamente o cenário local, sem a presença de grupos rivais.
Avanço silencioso e diversificação de poder
Diferente do passado, quando o domínio se limitava a comunidades e morros da capital, o novo mapa mostra que o Comando Vermelho expandiu suas operações para o interior do estado, alcançando regiões antes consideradas de menor vulnerabilidade criminal. A facção atua hoje em municípios de médio porte e áreas estratégicas de logística, aproximando-se de eixos rodoviários e zonas portuárias.
Segundo fontes da segurança pública, o CV também vem diversificando suas atividades. Se antes o foco era o tráfico de drogas, agora a organização controla serviços paralelos — como venda de gás, internet, transporte alternativo e segurança privada. Essa mudança de perfil amplia o poder econômico da facção e torna mais difícil o combate tradicional baseado apenas em operações policiais.
Impactos sociais e econômicos
O domínio territorial imposto pelo CV gera efeitos que vão além da violência armada. Em muitas localidades, moradores vivem sob regras impostas pelo grupo, com restrições de circulação e imposição de taxas. Empresas e comerciantes também relatam dificuldades em operar em áreas dominadas, o que desestimula investimentos e agrava a informalidade.
Além disso, a presença de facções interfere diretamente no funcionamento de serviços públicos essenciais, como saúde, educação e transporte. A ausência de presença estatal constante em comunidades controladas por grupos criminosos acaba fortalecendo o poder paralelo e limitando a atuação de políticas públicas.
Desafio das forças de segurança
Especialistas alertam que o combate à expansão do Comando Vermelho exige integração entre segurança, inteligência e políticas sociais. A repressão isolada, afirmam, é insuficiente para conter uma estrutura que combina poder econômico, territorial e influência social.
“O desafio é romper o ciclo de controle territorial com presença permanente do Estado. Isso inclui ocupação social, oferta de serviços, urbanização e oportunidades econômicas. A ausência dessas ações abre espaço para o retorno das facções”, avalia um analista de segurança pública ouvido pela reportagem.
O governo do estado informou que as forças de segurança continuam realizando operações conjuntas com foco em áreas estratégicas, e que novos investimentos em tecnologia e inteligência estão sendo implementados para mapear rotas e finanças das organizações criminosas.
Um retrato preocupante
O relatório, embora técnico, serve como alerta para o impacto social e econômico do crime organizado no Rio de Janeiro. O domínio do Comando Vermelho sobre grande parte do estado mostra que o enfrentamento vai além da questão policial — trata-se de um problema estrutural que envolve ausência de políticas públicas, desigualdade e vulnerabilidade social.
Enquanto o poder público tenta recuperar territórios e retomar o controle, milhões de moradores seguem convivendo diariamente com a influência de facções que impõem regras, cobram taxas e interferem na rotina de comunidades inteiras.
Fonte: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro / Secretaria de Segurança Pública / Levantamento de 2025

