Maduro volta a usar discurso de ameaça externa para reforçar controle político

Published On: 12/08/2025 22:24

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Acusações de presença de mercenários estrangeiros na Venezuela levantam dúvidas sobre a veracidade dos fatos e alimentam suspeitas de manipulação estratégica pelo regime

Opinião de Janna Machado

As recentes declarações do presidente Nicolás Maduro, sobre a captura de supostos mercenários internacionais que estariam planejando sua captura ou desestabilização do país, devem ser vistas com cautela — tanto pela gravidade das acusações quanto pelo histórico político da Venezuela.

Não é a primeira vez que o governo venezuelano lança mão dessa narrativa. Desde a frustrada Operação Gideão, em 2020, episódios semelhantes têm sido usados como justificativa para ampliar o controle interno, militarizar a segurança e silenciar dissidências. Ainda que seja plausível que agentes estrangeiros ou opositores tenham articulado ações clandestinas, o uso sistemático desse discurso por parte de Maduro levanta suspeitas sobre sua função política e propagandística.

Crise real ou construção conveniente?

O momento em que os anúncios foram feitos — às vésperas da posse presidencial e em meio à pressão internacional por eleições transparentes — é emblemático. Denunciar uma ameaça externa nesse contexto reforça a imagem de “presidente sitiado” e oferece ao governo justificativa para endurecer medidas contra opositores internos.

Sem provas públicas, vídeos, confissões ou qualquer tipo de apuração independente, a narrativa perde força entre observadores internacionais. Além disso, o envolvimento de países como Espanha e Estados Unidos, se confirmado, teria implicações diplomáticas sérias — mas até o momento, nenhuma evidência concreta foi apresentada.

Instrumentalização da soberania

Ao acusar potências estrangeiras de enviar espiões e mercenários, Maduro tenta deslocar o foco dos problemas estruturais do país — como inflação crônica, pobreza extrema e colapso dos serviços públicos — para uma suposta ameaça imperialista. Trata-se de uma tática conhecida em regimes autoritários: alimentar o inimigo externo para manter a coesão interna.

Claro que, no xadrez da geopolítica latino-americana, também não se pode descartar que existam, de fato, operações de inteligência estrangeiras em território venezuelano. Mas é exatamente por isso que transparência, provas e investigações independentes são fundamentais.


Conclusão

Enquanto não houver clareza e evidências robustas sobre as acusações, o anúncio da prisão de “mercenários internacionais” parece mais uma jogada política do que um fato concreto de segurança nacional. Em regimes fechados, onde o controle da informação é rígido, manter um olhar crítico e exigir transparência é essencial — tanto para os venezuelanos quanto para a comunidade internacional.

Imagem: O Globo

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