Endividamento recorde expõe o desequilíbrio entre renda e custo de vida no Brasil

Published On: 05/11/2025 20:27

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Com 8 em cada 10 famílias endividadas, o país enfrenta um sintoma crônico, o crédito virou muleta onde deveria haver estabilidade financeira

Por Janna Machado

O Brasil vive um paradoxo cruel. Enquanto os índices econômicos tentam vender uma narrativa de recuperação, a realidade bate à porta, e ela vem cobrada com juros. A nova pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que o endividamento atinge 80% das famílias brasileiras, o maior percentual da série histórica. O dado é mais do que um número, é um retrato de um país onde o custo de sobreviver ultrapassou o limite da dignidade.

O cartão de crédito, que já foi símbolo de ascensão e confiança, hoje é uma bomba-relógio social. Para milhões de brasileiros, ele não é luxo, é tábua de salvação. É o que compra o gás, a comida, o remédio. É o que segura o mês, e o que aprisiona o futuro. O problema é que o crédito fácil virou o reflexo da renda difícil.

O endividamento não é um erro individual, mas um sintoma coletivo. A renda média estagnada, os juros que beiram o insustentável e o consumo empurrado por marketing agressivo criaram o cenário perfeito para o caos financeiro das famílias. O que vemos é a classe média comprimida e as camadas mais pobres empurradas para o vermelho permanente.

A situação é ainda mais preocupante porque o endividamento virou um ciclo sem saída. As famílias entram no crédito rotativo para pagar contas básicas, e quando não conseguem sair, os juros come tudo, salário, esperança e o sossego. É o retrato de um sistema que penaliza quem mais trabalha e protege quem mais lucra.

Soluções existem, mas exigem coragem política. É urgente discutir reforma no sistema de crédito ao consumidor, educação financeira real nas escolas e políticas de renda que acompanhem o custo de vida. De nada adianta o discurso de crescimento econômico se esse crescimento não chega à mesa da maioria.

No fim das contas, o endividamento recorde é o espelho da desigualdade. O brasileiro quer trabalhar, pagar o que deve e viver com dignidade. Mas enquanto o sistema for desenhado para enriquecer quem empresta e sufocar quem precisa, o país seguirá com o nome sujo, e não é no Serasa, é na consciência social.

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