Desaprovação acima de 50% | Quando o recado das ruas ignora o discurso oficial

Published On: 18/12/2025 11:44

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Os números não gritam, mas insistem. E insistência, na política, costuma ser aviso

Ao terminar o ano com desaprovação acima de 50%, segundo levantamento do AtlasIntel, o governo Lula recebe um sinal claro de que algo não está funcionando como o discurso oficial tenta sustentar. Não se trata de um tropeço estatístico nem de um detalhe metodológico. Trata-se de percepção social e percepção, goste-se ou não, molda governos.

O dado é ainda mais simbólico porque surge em um cenário no qual o governo insiste em comunicar normalidade, retomada e estabilidade. Mas há uma distância crescente entre a narrativa institucional e a experiência cotidiana de parte significativa da população. Quando mais brasileiros desaprovam do que aprovam, o problema deixa de ser comunicação e passa a ser entrega.

A insatisfação não nasce do nada. Segurança pública segue frágil, o custo de vida pesa, e a sensação de desorganização administrativa persiste. Soma-se a isso um governo que parece mais confortável no embate político permanente do que na construção de consensos mínimos. O resultado é previsível: desgaste.

Há também um cansaço difuso com promessas recicladas. Lula governa pela terceira vez. Isso, que poderia ser um trunfo de experiência, virou para muitos um fator de comparação desfavorável. O eleitor olha para trás, olha para o presente e pergunta: é só isso?

Outro ponto incômodo é a insistência em tratar críticas como ataques ideológicos. Quando o governo responde à desaprovação acusando “má-fé”, “fake news” ou “herança do passado”, perde a chance de escutar o essencial: há uma parcela real da população que simplesmente não se sente representada, atendida ou protegida.

A política não é um exercício de convencimento permanente. É, antes de tudo, um contrato de resultados. E contratos mal cumpridos cobram preço alto.

Entrar em um novo ano com mais reprovação do que aprovação não significa colapso imediato, mas acende um alerta vermelho. Ignorá-lo é erro estratégico. Minimizar é arrogância. E insistir na mesma fórmula esperando outro resultado é, no mínimo, ingenuidade política.

O Brasil não está pedindo milagres. Está pedindo coerência, segurança, previsibilidade e menos retórica. Se o governo continuar tratando o descontentamento como ruído, corre o risco de descobrir tarde demais que o ruído virou maioria.

Na política, os números não mentem.
Eles avisam.

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