Crise do café nos EUA pressiona cafeterias e revela fragilidade na cadeia global do produto

Published On: 27/10/2025 12:20

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Alta dos preços internacionais, tarifas de importação e mudanças climáticas nos países produtores provocam aumento no custo do café e colocam em risco a sustentabilidade do mercado norte-americano

Os Estados Unidos, o maior importador de café do mundo, enfrentam uma crise silenciosa que ameaça o bolso do consumidor e a sobrevivência de pequenas cafeterias. O preço do café arábica atingiu níveis recordes em 2025, impulsionado por fatores que vão desde condições climáticas adversas em países produtores até tarifas comerciais impostas pelo próprio governo americano.

De acordo com a Associated Press (AP), o valor da libra do café ultrapassou US$ 4 nos últimos meses — o mais alto em mais de uma década. Em cafeterias de Nova York e São Francisco, o preço de um simples café filtrado já subiu até 40% em um ano. A situação se agravou após as novas tarifas sobre o café brasileiro e vietnamita, dois dos principais fornecedores do mercado norte-americano, elevarem os custos de importação.

“Estamos diante de uma tempestade perfeita: preços de insumos em alta, clima imprevisível e barreiras comerciais que restringem a oferta”, resume a publicação especializada Perfect Daily Grind.


Um problema que vem do campo

A base da crise está nas mudanças climáticas. O café é uma cultura altamente sensível a variações de temperatura e regime de chuvas. No Brasil — maior exportador global — secas severas e ondas de calor reduziram colheitas, enquanto em outros países, como Colômbia e Vietnã, o excesso de chuvas afetou a qualidade dos grãos.

Com a menor oferta e a demanda ainda aquecida, o mercado internacional reagiu com alta generalizada nos preços. A Forbes aponta que o aumento não é apenas momentâneo: especialistas acreditam que o valor elevado pode se consolidar como o “novo normal” da indústria cafeeira mundial.


Tarifa e dependência: a dupla que azedou o café americano

Os EUA importam quase 100% do café que consomem. Ou seja, qualquer impacto climático ou político nos países produtores tem reflexo direto nas prateleiras e nas cafeterias locais. Recentemente, associações do setor pediram ao governo a isenção das tarifas sobre o café para conter a escalada dos preços, conforme noticiou a Reuters.

Enquanto isso, pequenos empreendedores tentam sobreviver. Muitas cafeterias reduziram margens de lucro, alteraram blends e substituíram cafés premium por variedades mais baratas para manter os preços competitivos. Na prática, o sabor e a qualidade da bebida começam a sofrer.

“O consumidor paga mais e recebe menos. A crise já chegou à xícara”, relatou um dono de cafeteria em Minnesota à CBS News, ao comentar que o custo do grão verde subiu cerca de 50% em um ano.


O impacto global e reflexos para o Brasil

Para o Brasil, a situação representa um paradoxo: por um lado, a alta de preços beneficia exportadores; por outro, o aumento de custos de produção e transporte pode anular os ganhos. Especialistas apontam que a instabilidade climática, somada à dependência do mercado externo, deixa o setor vulnerável a novas flutuações.

Além disso, com as tarifas impostas pelos EUA, parte da exportação brasileira pode migrar para mercados alternativos — como Europa e Ásia —, o que mudaria o equilíbrio do comércio global do café.


Um futuro de adaptação

Analistas acreditam que a crise do café nos EUA não é passageira. A combinação entre clima, geopolítica e consumo indica que os preços permanecerão altos por mais tempo. Para resistir, o setor terá de inovar na cadeia produtiva, investir em sustentabilidade e buscar novas origens de fornecimento.

Enquanto isso, o americano comum começa a sentir no bolso o peso de um produto que sempre foi símbolo de rotina e acessibilidade. A cada gole, o café deixa de ser simples conforto e se torna reflexo da complexa engrenagem econômica que sustenta o mundo moderno.


Fonte: Revista Oeste

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