COP30 em Belém | O Brasil entre o protagonismo climático e suas contradições ambientais

Published On: 10/11/2025 17:25

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Com a Amazônia no centro das atenções, o país se prepara para sediar a conferência mais importante do planeta, enquanto enfrenta o desafio de conciliar discurso ecológico e práticas que ainda ameaçam o meio ambiente

Por Janna Machado

A COP30, que será realizada em Belém do Pará, já se anuncia como um marco histórico, não apenas por trazer ao Brasil o maior evento ambiental do planeta, mas por colocar o país, e especialmente a Amazônia, sob os holofotes do mundo. Pela primeira vez, a conferência do clima acontecerá literalmente no coração da floresta que o planeta insiste em romantizar, explorar e agora exigir que salve o próprio futuro.

Mas há uma contradição incômoda nessa celebração antecipada. O Brasil se apresenta como potência ambiental e líder do chamado “Sul Global”, enquanto continua preso à velha fórmula, discurso verde na ONU, mas licenciamento travado, desmatamento crescente e expansão de fronteiras agrícolas sobre áreas de preservação. A COP30 será, portanto, um espelho, e o reflexo pode ser menos heroico do que o governo espera.

O palco e o enredo

Belém será o centro de debates sobre transição energética, redução de emissões e preservação das florestas tropicais, mas também sobre o modelo de desenvolvimento que o Brasil deseja seguir. O governo quer mostrar que é possível crescer sem destruir, mas o desafio é provar isso com resultados concretos, não apenas slogans.
A floresta amazônica ainda perde milhares de hectares por ano. Comunidades indígenas seguem vulneráveis, e grandes obras de infraestrutura, como rodovias e portos, continuam avançando em regiões ambientalmente sensíveis.

O peso político da COP30

A conferência também carrega um peso político. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta no evento como símbolo de liderança global e de reposicionamento do Brasil no cenário internacional. É a chance de mostrar que o país pode ser mediador entre as grandes potências poluidoras e as nações em desenvolvimento.
No entanto, a vitrine será impiedosa, o mundo vai cobrar coerência. Não basta discursar sobre sustentabilidade enquanto se flexibilizam regras ambientais ou se incentivam novas explorações de petróleo na Foz do Amazonas.

O dilema amazônico

A Amazônia não pode continuar sendo apenas o “cenário exótico” das discussões climáticas. Ela precisa ser protagonista real, o que implica investimento em ciência, bioeconomia e valorização das populações locais.
O desafio está em transformar o discurso em política pública, e a política em ação sustentável. A floresta é a chave da credibilidade do Brasil, mas também seu maior teste moral e econômico.

Entre a esperança e a cobrança

A COP30 pode ser o ponto de virada, ou mais um capítulo das promessas não cumpridas. O Brasil tem o trunfo da biodiversidade e da matriz energética limpa, mas ainda falta planejamento e coragem para enfrentar interesses que sabotam a pauta ambiental em nome do “progresso”.
Belém será, portanto, mais que sede da conferência, será o termômetro da sinceridade brasileira diante do mundo.

O planeta espera um Brasil líder, não um país que discursou bonito e seguiu derrubando árvores por conveniência. A COP30 será o momento de escolher entre o papel de protagonista climático ou o de figurante verde num teatro de boas intenções.

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