Brasil registra 9ª morte por intoxicação com metanol
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Ministério da Saúde confirma 47 casos e alerta para risco de bebidas adulteradas; autoridades investigam rede nacional de falsificação
O Ministério da Saúde confirmou, nesta segunda-feira (20), a nona morte causada por intoxicação com metanol no Brasil. Segundo o boletim oficial, já são 47 casos confirmados da substância ingerida de forma acidental por meio de bebidas destiladas adulteradas, além de 57 ocorrências em investigação e 578 descartadas.
O surto, que começou no início de outubro, preocupa autoridades sanitárias e policiais. O estado de São Paulo concentra a maioria dos casos — 38 intoxicações e seis mortes —, seguido por Pernambuco (duas mortes) e Paraná (uma), de acordo com levantamento publicado por CartaCapital e Veja.
Investigação aponta desvio e falsificação
As investigações conduzidas pela Polícia Civil e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) indicam que os casos estão ligados a bebidas destiladas falsificadas, como vodca e gim, que teriam recebido metanol industrial no lugar do etanol próprio para consumo humano.
O UOL e a AP News relatam que parte do produto utilizado na adulteração pode ter sido desviado de estoques industriais e distribuído ilegalmente para pequenos fabricantes e revendedores clandestinos. Autoridades também apuram se há conexões interestaduais na falsificação, com foco em São Paulo, Goiás e Pernambuco.
O metanol é uma substância altamente tóxica usada em combustíveis e solventes. Mesmo em pequenas quantidades, pode causar cegueira, falência renal, coma e morte. Segundo o Ministério da Saúde, os primeiros sintomas surgem entre 8 e 24 horas após a ingestão, e incluem visão turva, dor abdominal, náuseas e confusão mental.
Ações emergenciais e tratamento
Diante do avanço dos casos, o governo federal determinou a distribuição emergencial do antídoto Fomepizol, usado no tratamento da intoxicação. Também foi autorizada a importação de etanol farmacêutico, empregado como terapia alternativa em hospitais quando o antídoto não está disponível.
Em nota à imprensa, o Ministério da Saúde reforçou o alerta para que a população evite o consumo de bebidas destiladas sem procedência comprovada e denuncie produtos suspeitos às vigilâncias locais.
“Estamos acompanhando a situação com as secretarias estaduais de saúde e atuando de forma integrada para interromper a circulação de bebidas irregulares e salvar vidas”, diz o comunicado da pasta.
Risco à saúde pública
Especialistas alertam que a intoxicação por metanol representa uma emergência de saúde pública e exige resposta rápida. O professor e toxicologista Dr. Ricardo Muniz, da Universidade de São Paulo, explica que o perigo está no fato de que “a bebida adulterada tem aparência e gosto idênticos ao produto original, o que dificulta a identificação pelo consumidor”.
“Mesmo uma pequena dose pode ser fatal. O metanol se acumula no organismo e causa danos irreversíveis ao sistema nervoso e à visão”, reforça o especialista.
Reforço na fiscalização
Em São Paulo, equipes da Vigilância Sanitária e da Polícia Civil intensificaram operações para localizar os pontos de venda e distribuição de bebidas falsificadas. Mais de 100 mil garrafas de destilados foram apreendidas em bares, distribuidoras e depósitos nas últimas semanas.
A Anvisa e o Ministério da Justiça articulam agora um gabinete de crise nacional para rastrear os lotes adulterados e evitar novas mortes. A medida inclui cooperação entre estados e municípios, além de parcerias com as polícias federal e civil.
Como se proteger
O Ministério da Saúde recomenda aos consumidores:
- Verificar selo fiscal e lacre intactos antes de abrir qualquer bebida;
- Evitar o consumo de destilados vendidos a granel ou em festas sem procedência;
- Procurar atendimento médico imediato em caso de sintomas após ingestão de bebida suspeita;
- Denunciar irregularidades pelo número 136 (Disque Saúde) ou nas vigilâncias locais.
Com nove mortes já confirmadas e dezenas de casos ainda em apuração, o surto de metanol reacende a preocupação com a segurança alimentar, o controle de produtos e o consumo consciente de bebidas no país.
🗞️ Fontes: Ministério da Saúde, Veja, CartaCapital, Ministério da Saúde