Baleia-azul é avistada pela primeira vez no litoral paulista em registro histórico e raro da vida marinha
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Maior animal do planeta foi flagrado em Ilhabela por pesquisadoras do Instituto Verde Azul, presença inédita pode estar ligada a mudanças climáticas e reforça importância da conservação oceânica
Na última terça-feira (27), o litoral de São Paulo foi palco de um dos registros mais raros da biologia marinha nacional: uma baleia-azul (Balaenoptera musculus) foi avistada nas águas de Ilhabela, no litoral norte do estado. O flagrante foi feito por biólogas do Viva Instituto Verde Azul, organização não governamental especializada em conservação da fauna oceânica.
Esse é o primeiro registro oficial da espécie no estado de São Paulo e apenas o segundo avistamento documentado no Brasil — o primeiro ocorreu em 2021, no litoral do Rio de Janeiro. A presença da baleia foi confirmada por meio de fotos e vídeos que mostraram claramente as características da espécie: cor acinzentada azulada, o dorso plano com pequenas manchas claras, e o sopro vertical, alto e fino, que pode ultrapassar 9 metros de altura.
De acordo com Marina Leite, bióloga que fazia parte da equipe de observação na torre da ONG, o avistamento durou cerca de duas horas. Durante esse tempo, a baleia foi acompanhada visualmente enquanto nadava calmamente pela costa, sem sinais de estresse. “Ficamos em choque no início, sem acreditar. Pela coloração e o padrão do sopro, sabíamos que era algo único. E quando confirmamos que era mesmo uma baleia-azul, a emoção tomou conta”, disse Marina.
A baleia-azul é o maior animal conhecido do planeta, podendo atingir até 33 metros de comprimento e pesar cerca de 180 toneladas. Apesar do tamanho gigantesco, o cetáceo se alimenta basicamente de krill, minúsculos crustáceos semelhantes ao camarão. Um único exemplar da espécie pode consumir até 4 toneladas de krill por dia, durante os períodos de alimentação no hemisfério sul.
Especialistas apontam que o deslocamento desse indivíduo para áreas fora do seu habitat usual pode estar relacionado a mudanças climáticas, alterações na rota migratória e disponibilidade de alimento. A espécie normalmente habita águas profundas e frias dos oceanos Atlântico e Pacífico e costuma migrar entre regiões polares e tropicais.
O aparecimento do animal em uma zona relativamente quente e costeira como o litoral paulista surpreendeu os biólogos. “O aquecimento dos oceanos, alterações em correntes marinhas e até o impacto da pesca predatória no Atlântico Sul podem estar influenciando a movimentação desses animais”, explicou Renata Junqueira, oceanógrafa da Universidade de São Paulo (USP).
Além da raridade, o avistamento também reacende a preocupação com a preservação das espécies marinhas. A baleia-azul esteve à beira da extinção durante o século XX devido à caça comercial. Estima-se que mais de 360 mil indivíduos foram mortos entre 1900 e 1960. Desde então, a espécie é protegida por leis internacionais, como o acordo da Comissão Internacional da Baleia (IWC), e ainda hoje se encontra em perigo de extinção, com uma população global estimada entre 10 mil e 25 mil animais.
O Viva Instituto Verde Azul já comunicou oficialmente o registro à Rede de Encalhes e Informações de Mamíferos Aquáticos do Brasil (Remab), que fará a validação científica e o envio dos dados ao Ministério do Meio Ambiente. O material recolhido também será utilizado em pesquisas sobre rotas migratórias, saúde dos oceanos e mudanças no comportamento das baleias no Atlântico Sul.
Segundo as biólogas do projeto, o episódio reforça a necessidade de manter programas de monitoramento e educação ambiental, especialmente em regiões costeiras que convivem com o turismo náutico e atividades que podem impactar a fauna marinha, como o tráfego de embarcações e a poluição.
Curiosidades sobre a baleia-azul:
- O coração de uma baleia-azul pode pesar até 180 kg — equivalente ao peso de um piano.
- Seus pulmões armazenam mais de 5 mil litros de ar.
- Mesmo com o tamanho colossal, o sistema reprodutivo e de alimentação da espécie é altamente eficiente, com filhotes que crescem até 90 kg por dia após o nascimento.
- Seu canto pode ser ouvido a mais de 1.600 km de distância em boas condições oceânicas.