Arruda tenta driblar Lei da Ficha Limpa e antecipar volta à política
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Ex-governador condenado busca brecha jurídica para reduzir inelegibilidade e reabilitar imagem após escândalos da Operação Caixa de Pandora
Por Janna Machado
O ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda volta aos holofotes ao tentar reinterpretar a lei para encurtar seu tempo de inelegibilidade e abrir caminho para um possível retorno à vida política. A defesa do ex-gestor alega que suas cinco condenações por improbidade administrativa deveriam ser unificadas, pois decorreriam de um mesmo processo: a Operação Caixa de Pandora, que revelou um amplo esquema de corrupção no governo local.
Com essa manobra, Arruda busca reduzir o período de inelegibilidade para 12 anos, o que permitiria sua candidatura já em 2026. O argumento, entretanto, é visto por especialistas como uma tentativa de burlar o espírito da Lei da Ficha Limpa, legislação criada para impedir que políticos condenados por corrupção retornem rapidamente ao poder.
Juristas apontam que cada condenação representa uma violação autônoma da administração pública, o que torna a tentativa de unificação das penas uma interpretação distorcida e perigosa da legislação. Caso essa tese prospere, pode-se criar um precedente grave, permitindo que diferentes atos de corrupção sejam tratados de forma branda e complacente, enfraquecendo o propósito da Lei da Ficha Limpa.
A Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 2009, expôs um dos maiores escândalos de corrupção da história do Distrito Federal, envolvendo subornos e desvio de recursos públicos. O caso levou à queda de Arruda do governo e à perda de seus direitos políticos.
Agora, em meio à tentativa de reconstruir sua imagem, o ex-governador aposta na releitura da legislação de improbidade administrativa, aprovada em 2021, como instrumento de retorno político. A estratégia, no entanto, gera indignação entre eleitores e analistas que veem a medida como um retrocesso ético e uma afronta à moralidade pública.
Mais do que uma disputa jurídica, o movimento de Arruda escancara a distância entre o discurso de renovação política e as práticas de bastidores que insistem em persistir. Em um momento em que o país cobra transparência e integridade, a tentativa de reabilitação de um político condenado por corrupção é um lembrete incômodo: a impunidade ainda tenta encontrar seu caminho de volta ao poder.
Foto: Agência Brasil