Ambipar entra em crise e prepara pedido de recuperação judicial
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Com dívidas bilionárias e queda nas ações, empresa de gestão ambiental busca reestruturar finanças e preservar operações no Brasil e no exterior
A Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. (AMBP3), gigante brasileira do setor de gestão ambiental e resposta a emergências, vive um dos momentos mais delicados desde sua fundação. Após meses de turbulência financeira e perda de valor de mercado, a companhia prepara um pedido de recuperação judicial, movimento que deve ser formalizado ainda nesta semana.
A decisão ocorre em meio a uma dívida que ultrapassa R$ 5 bilhões, acumulada após uma série de aquisições internacionais, operações financeiras arriscadas e dificuldades de caixa. A 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro concedeu à Ambipar uma liminar de proteção por 30 dias, suspendendo temporariamente cobranças, execuções e vencimentos antecipados de dívidas. O prazo serve para a empresa tentar reorganizar seu plano de reestruturação e evitar o colapso total das operações.
Segundo informações de bastidores, a Ambipar busca negociar com credores nacionais e estrangeiros, incluindo bancos e investidores institucionais que financiaram parte de suas expansões por meio de títulos sustentáveis — os chamados green bonds. O grupo possui exposição significativa no exterior, o que complica o processo de renegociação, já que envolve legislações diferentes e contratos internacionais.
Nos últimos meses, o valor das ações da Ambipar despencou, acumulando queda superior a 90% em 2025. O movimento foi impulsionado por incertezas sobre a governança corporativa, saídas de executivos e questionamentos de órgãos reguladores sobre a transparência de algumas operações financeiras.
A empresa, que se consolidou como referência em sustentabilidade corporativa, resposta a desastres ambientais e reciclagem industrial, enfrenta agora o desafio de preservar sua imagem e seus contratos com clientes públicos e privados. No Brasil, a Ambipar presta serviços para companhias de energia, transporte e mineração — setores considerados estratégicos.
Em nota, a companhia informou que o objetivo da medida é “proteger o negócio e manter o funcionamento das operações essenciais”, garantindo a continuidade dos serviços e a preservação dos empregos.
“Estamos enfrentando um momento desafiador, mas seguimos comprometidos com nossos clientes e colaboradores. A recuperação judicial é um instrumento para reorganizar dívidas e garantir sustentabilidade de longo prazo”, diz o comunicado divulgado à imprensa.
Especialistas em direito empresarial apontam que o caso da Ambipar reflete os riscos de crescimento acelerado sem estrutura de capital sólida. Em poucos anos, a empresa comprou dezenas de companhias no Brasil, América Latina, Europa e Estados Unidos, financiando as operações por meio de dívida. Com a alta dos juros e a desvalorização dos ativos, a conta chegou.
O plano de recuperação judicial, que deve ser apresentado nos próximos dias, deverá detalhar as propostas de pagamento aos credores, reestruturação das subsidiárias e possíveis vendas de ativos. Caso o projeto seja aceito, a Ambipar continuará operando sob supervisão judicial enquanto busca restabelecer o equilíbrio financeiro.
Contexto e impacto no mercado
A Ambipar estreou na Bolsa de Valores em 2020, no auge da valorização das empresas ligadas a pautas ESG (ambiental, social e governança). Desde então, investiu fortemente na internacionalização e diversificação de serviços.
Porém, o modelo de expansão baseado em endividamento e derivativos cambiais se mostrou insustentável diante da volatilidade econômica global e da queda de liquidez.
A crise da companhia lança dúvidas sobre a credibilidade das chamadas “empresas verdes” listadas no mercado financeiro e pode servir de alerta para o setor: sustentabilidade corporativa exige não apenas discurso ambiental, mas também gestão financeira responsável.
Fontes: Revista Oeste