A rejeição do governo Lula virou recado, não ruído

Published On: 29/12/2025 10:36

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Pesquisas mostram desgaste contínuo e um país cansado de discursos que não se traduzem em resultado

A cada nova pesquisa, o mesmo recado aparece: a maioria dos brasileiros está insatisfeita com o governo Lula. Não é um soluço estatístico. Não é uma oscilação natural. É um padrão. E padrões, quando se repetem, deixam de ser detalhe e passam a ser diagnóstico.

É possível discordar das pesquisas, dos institutos e até dos números, mas ignorar a tendência é fechar os olhos para o óbvio: existe um descompasso entre as promessas e o cotidiano da população. O governo não consegue entregar narrativas que sobrevivam ao teste da vida real. É aí que mora o ponto central dessa desaprovação.

A economia é usada como vitrine do Palácio do Planalto, mas o brasileiro percebe o que realmente importa na fila do supermercado, no boleto da energia, no aluguel que aumenta. O discurso oficial fala em avanço e recuperação, enquanto o trabalhador sente retrocesso e aperto. Quando a teoria vive distante da prática, a confiança racha.

Outro fator está no clima político. O governo insiste em revisitar disputas antigas, reabrir feridas ideológicas e alimentar rivalidades que já cansaram o eleitor. O Brasil não suporta mais um governo que se define pelo adversário. A polarização eterna cobra preço emocional e econômico. A sensação de estagnação política desgasta qualquer gestão.

No campo da segurança pública, o sentimento de abandono é ainda mais evidente. O país assistiu ao crescimento da violência, do crime organizado e da insegurança urbana. O governo não conseguiu apresentar uma estratégia contundente. O discurso de enfrentamento soa tímido. O cidadão percebe e conclui que está sozinho.

A rejeição não significa que o eleitor virou antipetista por decreto. Significa que o eleitor está cansado. Ele percebeu que não está recebendo resultados compatíveis com as expectativas criadas. O crédito político que Lula recebeu no início do mandato está sendo consumido mais rápido do que os resultados aparecem.

Nada disso invalida os méritos ou as agendas positivas que existem na administração federal. Mas governo se mantém com entregas. E a avaliação pública é clara: o saldo não fecha.

O presidente ainda tem tempo para reagir. Ainda pode ajustar rota, abandonar disputas estéreis, focar na eficiência e reconectar com o país real. Mas a cada nova pesquisa, fica mais caro ignorar o problema. A desaprovação não é uma estatística hostil. É uma oportunidade de mudança. É um espelho que o governo pode recusar, mas não pode apagar.

Se Lula optar por acreditar que o povo está errado e as pesquisas estão certas apenas quando o favorecem, corre o risco de repetir o erro clássico dos governos que se perdem: confundir poder com aprovação. Poder se exerce. Aprovação se conquista.

O recado está dado. A pergunta é outra: alguém no governo está ouvindo?

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