A frase de Lula que distorce a realidade e fragiliza o combate ao crime

Published On: 27/10/2025 11:35

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Ao dizer que “traficantes são vítimas dos usuários”, o presidente abre espaço para confusão moral e política em um dos temas mais sérios do país: a violência alimentada pelo tráfico

Por Janna Machado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a causar polêmica com suas declarações. Desta vez, ao afirmar que “os traficantes são vítimas dos usuários”, ele ultrapassou o limite entre a reflexão social e a distorção da responsabilidade criminal. A fala, feita durante uma entrevista no exterior, soou como um tropeço que enfraquece o discurso governamental sobre segurança pública e passa a impressão de que o Estado está indeciso sobre quem é o agressor e quem é a vítima.

Uma inversão perigosa

A ideia de que o tráfico é consequência da demanda por drogas até faz sentido dentro da lógica econômica. Mas transformar quem lucra com o vício e com a morte alheia em vítima é um erro moral e político. O tráfico de drogas é uma das principais engrenagens da violência urbana no Brasil — destrói famílias, domina territórios e corrompe instituições. Tratar o traficante como vítima é ignorar as vidas ceifadas e as comunidades que vivem sob o terror imposto por facções.

Enquanto o presidente tenta fazer um discurso “sociológico”, quem mora nas periferias continua refém de quadrilhas que impõem toque de recolher e executam adolescentes. Não há romantismo que resista a essa realidade.

Efeito político e social

O problema da fala não está apenas nas palavras, mas no momento. Em um país que enfrenta aumento de criminalidade em diversas regiões, e em meio à desconfiança nas políticas de segurança, o presidente deveria reforçar a mensagem de combate ao crime — não diluí-la.

Ao sugerir que traficantes também são vítimas, Lula oferece munição à oposição, cria ruído dentro das próprias forças de segurança e desmoraliza agentes que arriscam a vida diariamente para enfrentar o narcotráfico. A frase, em vez de abrir um debate maduro sobre drogas e desigualdade, apenas desvia a atenção do essencial: a responsabilidade e o dever do Estado de garantir segurança à população.

A sociedade como refém do discurso

A realidade é dura. Enquanto discursos escapam para teorias confusas, mães choram filhos mortos, professores veem alunos sendo cooptados pelo tráfico e jovens são assassinados por dívidas de cinquenta reais. É nesse Brasil real — e não no dos palanques — que as palavras presidenciais pesam.

A fala de Lula, ainda que não intencional, banaliza a tragédia de milhões de brasileiros que convivem com o medo. E, quando o discurso do poder se torna ambíguo, o crime agradece.

Conclusão

O presidente tentou fazer um raciocínio social, mas acabou desferindo um golpe na própria credibilidade. O combate ao tráfico exige firmeza, empatia com as vítimas verdadeiras e responsabilidade nas palavras. Quando o líder da nação confunde papéis, o resultado é o enfraquecimento da confiança pública e o fortalecimento da impunidade.

Não há justificativa possível: quem lucra com o vício e destrói vidas não é vítima. É algoz.

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