O Brasil vive uma guerra de narrativas e ninguém admite que esse é o verdadeiro poder

Published On: 01/12/2025 15:51

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A política brasileira virou uma disputa por atenção, e o poder real hoje pertence a quem domina a narrativa que cabe na palma da mão do eleitor

Por Janna Machado

A política brasileira chegou a um ponto curioso. Nunca se falou tanto em democracia, mas nunca se disputou tanto a atenção. Todo partido, todo líder e todo influenciador se comporta como se estivesse no mesmo ringue, e de certa forma está. O eleitor virou audiência e o discurso virou produto.

Não é exagero dizer que o centro do tabuleiro já não é mais o Congresso nem o Planalto. É o celular do cidadão. Ali se decidem reputações, escândalos, vitórias, derrotas e versões dos fatos. A política se digitalizou de vez e quem não entendeu isso está simplesmente fora do jogo.

Nesse cenário, figuras como Nikolas Ferreira ganham tração não porque falam mais alto, mas porque falam o idioma emocional do tempo. Ele é apenas um exemplo. Há perfis semelhantes na esquerda e no centro. São personagens que entenderam que política não é só projeto. É ritmo, estética, narrativa e presença constante.

A disputa real hoje é por significado. É quem explica o país de um jeito que faça sentido para o brasileiro cansado de filas, de impostos, de notícias ruins e de promessas que evaporam. O eleitor não quer uma tese. Quer alguém que traduza o absurdo da vida cotidiana. Por isso discursos simples, de qualquer lado, soam mais poderosos do que falas recheadas de tecnicismo.

Enquanto isso, o governo tenta equilibrar a narrativa da estabilidade, mas enfrenta ruídos constantes. A economia oscila, as acusações respingam no entorno e há dificuldade em comunicar avanços de forma convincente num país saturado de informação. A oposição cresce porque oferece indignação, um combustível explosivo em tempos de frustração pública.

A polarização, tão criticada, virou um negócio lucrativo. E aqui está o ponto incômodo. Ninguém quer reduzir a tensão, porque a tensão gera engajamento e engajamento gera poder. A política descobriu que o conflito fideliza.

Mas o Brasil da vida real não vive de conflito. Vive de salário curto, transporte lotado, saúde que demora, segurança que falha. E esse Brasil silencioso está observando tudo. Ele não está perdendo o debate. Está apenas esperando alguém que ofereça algo mais do que gritos digitais.

A próxima grande virada política não virá de quem brigar melhor, mas de quem conseguir construir uma visão de futuro que pareça possível. Uma visão que supere o espetáculo e toque no concreto: emprego, renda, educação, segurança, tecnologia, estabilidade.

Enquanto isso não acontece, seguimos numa guerra de versões, onde cada lado tem sua própria verdade e onde o algoritmo é o grande maestro. O país avança aos trancos, improvisando como sempre fez, enquanto seus líderes disputam likes como se estivessem disputando a alma da nação. Talvez estejam.

O desafio do Brasil não é escolher um lado.
É escolher um rumo.

 

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