Pesquisas da Arrow e da AtlasIntel revelam que quase 70% dos fluminenses apoiam a megaoperação policial no Rio de Janeiro, mas o alto índice de aprovação expõe também o medo, a insegurança e a descrença da população na capacidade do Estado de garantir paz sem violência
Por Janna Machado
Os números impressionam, e incomodam. Uma pesquisa da Arrow Pesquisas, divulgada em 29 de outubro de 2025, mostrou que 68,85% dos fluminenses aprovam a megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro. O levantamento ouviu 2.210 pessoas (979 na capital e 1.231 no interior), com margem de erro de 2,06 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Já um segundo estudo, da AtlasIntel, indicou que 62% dos cariacos, moradores da capital, apoiam a ação. Entre os entrevistados que vivem em favelas, a aprovação sobe para 88%.
O número chama atenção porque ocorre após uma das operações mais letais da história recente do país, com mais de 120 mortos. Ainda assim, a maioria da população afirma ter se sentido aliviada e esperançosa. Segundo o levantamento da Arrow, 41,9% dos entrevistados relataram sentimento de esperança, e 21,9% de alívio, enquanto 18,9% disseram sentir medo.
É um retrato cruel, mas real, a sociedade fluminense parece dividida entre o desejo por segurança e a desconfiança no Estado. O alto índice de aprovação não necessariamente reflete apoio à violência, mas sim um grito de desespero coletivo diante da falência da segurança pública. O cidadão comum vive acuado, e quando o Estado aparece, ainda que com fuzis em punho, a sensação é de que algo, enfim, está sendo feito.
Há, porém, uma contradição difícil de engolir, como aceitar que o combate ao crime precise deixar um rastro de sangue? Quando o Estado precisa agir com força desmedida, algo já se perdeu, o planejamento, a inteligência, a política preventiva. O aplauso à ação policial, portanto, é menos um voto de confiança e mais um pedido de socorro.
A pesquisa mostra que o apoio é maior no interior do estado (70,78%) do que na capital (66,9%), o que revela também um distanciamento entre quem vive o conflito de perto e quem o observa à distância. Nos morros e comunidades, onde a violência é rotina, o apoio à presença policial se mistura ao medo, a linha entre proteção e risco é tênue.
Em resumo, quase 70% dos fluminenses dizem aprovar a operação. Mas o que o dado realmente revela é um sentimento coletivo de esgotamento. O povo quer segurança, quer paz, mas acima de tudo, quer acreditar que o Estado ainda tem solução que não dependa do barulho das balas.
📊 Fontes: Arrow Pesquisas e AtlasIntel