A volta dos que nunca foram | A tentativa de reabilitação da República dos Condenados
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Arruda, Gim Argello, Agnelo e Brunelli ensaiam o retorno político em 2026 e testam até onde vai a memória e a tolerância do eleitor brasiliense
Por Janna Machado
Há algo de trágico e farsesco no cenário político de Brasília: os mesmos rostos que protagonizaram escândalos bilionários voltam à cena como se nada tivesse acontecido. A “República dos Condenados”, formada por José Roberto Arruda, Gim Argello, Agnelo Queiroz e Júnior Brunelli, se articula para disputar as eleições de 2026. É o retorno de uma velha engrenagem movida não por ideais, mas pela vaidade e pelo apetite pelo poder.
A ironia é que todos foram, de alguma forma, condenados ou denunciados por corrupção e agora vestem a fantasia de arrependidos, tentando vender ao eleitor a imagem de “gestores experientes”. Experientes, sim , em manobras, acordos e escândalos que sangraram os cofres públicos e mancharam a história do Distrito Federal.
Arruda, o protagonista do Mensalão do DEM, ficou famoso pelo vídeo da Caixa de Pandora, onde aparece recebendo uma sacola de dinheiro. Gim Argello, batizado por empreiteiros de “Alcoólico”, foi condenado a 19 anos por embolsar R$ 7,35 milhões em propinas e agora, com a sentença anulada, fala em “justiça divina”. Agnelo Queiroz, o homem do Mané Garrincha de R$ 1,4 bilhão, tenta ressurgir como se o maior escândalo de superfaturamento do país fosse apenas um mal-entendido técnico. E Brunelli, o autor da famosa “oração da propina”, volta à cena com um discurso de fé seletiva , aquela que perdoa os próprios pecados, mas esquece os da cidade.
Essa movimentação não é apenas uma manobra eleitoral. É uma provocação. É o teste de até onde o povo esquece, e o quanto o poder de uma memória curta pode custar ao futuro.
O que está em jogo não é apenas o retorno de velhos nomes, mas a reabilitação de um modelo de política que transforma o crime em currículo e o perdão judicial em marketing. O que eles chamam de “experiência” é, na verdade, o peso de décadas de desmandos, contratos superfaturados e promessas vazias.
É hora de o eleitor do Distrito Federal entender que corrupção não prescreve moralmente. Que a impunidade jurídica não apaga a responsabilidade ética. Que não há recomeço possível quando o ponto de partida é o desprezo pela verdade e pela coletividade.
Brasília merece novos líderes e não reprises de escândalos. Porque um povo que se acostuma com o erro perde o direito de se indignar. E quando a indignação morre, o que sobra é o retorno triunfal dos que deveriam permanecer apenas nos livros de história como o que não deve se repetir.

