Dados usados pelo Presidente dos EUA são contestados por autoridades locais, que destacam índices reais e resposta oficial

Em meio a uma ofensiva política para justificar medidas de intervenção na segurança pública de Washington D.C., o Presidente Donald Trump citou Brasília como uma das capitais do mundo com taxa de homicídios inferior à da capital americana. Durante uma coletiva em agosto de 2025, Trump apresentou um gráfico apontando 41 homicídios por 100 mil habitantes em Washington, contra 13 em Brasília, reforçando seu argumento pela mobilização da Guarda Nacional e o endurecimento do policiamento na cidade.

No entanto, dados oficiais do Distrito Federal apontam para uma realidade bem diferente. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do DF, Brasília encerrou 2024 com a menor taxa de homicídios desde 1977, registrando cerca de 6,9 casos por 100 mil habitantes — menos da metade do índice apresentado por Trump para a capital brasileira e aproximadamente quatro vezes menor que os 27,3 homicídios por 100 mil habitantes registrados em Washington naquele mesmo ano.

Governador Ibaneis Rocha contesta declarações de Trump

Em resposta às declarações, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, enviou uma carta oficial ao ex-presidente norte-americano contestando os números divulgados. Na mensagem, Ibaneis classificou como equivocada a percepção transmitida por Trump, destacando os esforços contínuos da segurança pública local para manter a violência sob controle e a transparência dos dados disponibilizados pelas autoridades brasileiras.

“A taxa de homicídios do Distrito Federal está entre as menores do Brasil e da América Latina, resultado do trabalho sério e comprometido das forças de segurança e da gestão pública. É importante que informações utilizadas para debates públicos sejam precisas e baseadas em dados atualizados e confiáveis”, afirma trecho da carta do governador.

Repercussão e análise

Especialistas e veículos internacionais apontam que a fala de Trump faz parte de uma estratégia política para mobilizar sua base eleitoral, utilizando o aumento da sensação de insegurança como argumento para medidas autoritárias em Washington, como o controle da polícia local pela Guarda Nacional.

Líderes de outras capitais latino-americanas, como a presidente do México, Claudia Sheinbaum, também reforçaram que Brasília e Cidade do México possuem índices de violência significativamente inferiores ao de Washington, contrariando a narrativa alarmista do ex-presidente dos EUA.

Contexto

A comparação entre taxas de homicídio é frequentemente usada para ilustrar desafios de segurança pública, mas é fundamental que os dados utilizados sejam atualizados e precisos. A mobilização da segurança em Washington D.C. ocorre em um momento delicado, envolvendo tensões políticas internas nos Estados Unidos, e o uso de capitais latino-americanas como exemplos pode ser estratégico, mas nem sempre refletir a realidade.

Imagem: Gazeta do povo